Pára-quedismo não caiu do céu:
Boituva tem tradição e trabalho
O Pirajá desce em Boituva e é recebido por Ricieri e Humberto Primo,
Antônio R.Santos, Rodrigo Holtz, Roque V. Dias e Manoel S. Freire
Desde os anos 30 Boituva tem ligação com aviões e pára-quedismo. As coisas começaram meio por
acaso mas não foi por cidente que a cidade sedia o Centro Nacional do esporte e tornou-se
referência obrigatória em matéria de pára-quedismo
civil no país.
A história:
1930 - Uma forte chuva de granizo, com pedaços de gelo "do tamanho de um punho", forçaram o
primeiro pouso de que se
tem notícia em Boituva.
Em 14 de setembro daquele ano o avião Pirajá, da viação Condor, desceu num platô entre a atual
Alba Química e o hospital São Luiz. O pouso era conhecido, mas só pôde ser reconstituído em
detalhes graças ao historiador Francisco de Oliveira Filho. Ele obteve um exemplar da revista"O Eco"de Porto Alegre, que conta os fatos. O avião pilotado pelo proprietário da Condor,
comandante Hammer, inaugurava uma linha comercial que ia de São Paulo a Cuiabá, passando por
São Manuel,Miranda e Corumbá. Em Cuiabá, o Pirajá faria conexão com outra aeronave, vinda da
Bolívia.
Ventos fortes e chuva de granizo golpearam o avião e o comandante Hammer orientou-se pela
estrada-de-ferro Sorocabana e conseguiu pousar no platô boituvense. Foi recebido pela elite da época: Ricieri Primo, Rodrigo Holtz, Humberto Primo, Antonio Rosa Santos, Manoel dos Santos
Freire e Prof. Roque Vieira Dias.
Em duas horas - conta a revista "O Eco",o terreno foi limpo e no dia seguinte, o Pirajá decolou
para concluir seu vôo inaugural. Sabe quem é a viação Condor? A avó da Varig !
1942 - em 22 de junho foi expedido o primeiro brevê (a carteira de habilitação) de um piloto
boituvense. Gabriel Assumpção Netto teve sua matrícula de aeronauta registrada no livro 7,
folha 17, do Departamento de Aeronáutica Civil.
Aeródromo veio antes que a Castello
1967- A empreiteira responsável pela construção do trecho de Boituva da rodovia Castello Branco,
a Sermarso, tinha de transportar engenheiros com rapidez e decidiu construir um campo de pouso
e decolagens.
O campo foi construído exatamente onde existe hoje o Centro Nacional de Pára-quedismo.O terreno
foi cedido pela proprietária, sra. Desdêmona Primo Pinezi. A autorização da pista tem como
coordenadas 23° 17' sul e 42° 41'oeste. Um piloto que sair do CNP e voar seguindo rigorosamente
este meridiano, em direção ao norte do país, chegará a Brasília.
A capital da República está no
mesmo meridiano, com diferença de apenas alguns segundos.
1968 - Boituva, que então não constava sequer dos mapas rodoviários do Estado aparece citada à
página AGA-3-2 de uma publicação técnica da aeronáutica. A pista é aberta e usada pela construtora
Sermarso aparece com o prefixo SSOP. A publicação descreve a pista como tendo 950 m de
comprimento e 100 de largura.
1969 - No dia 3 de novembro foi registrada escritura pública no Tabelionato de Porto Feliz
(livro 60, folha 125) da venda de uma área chamada sítio Campo de Aviação, de Desdêmona Primo
Pinezi para Alfredo Sartorelli. O nome do sítio, Campo de aviação, aparece até hoje nos documentos
do INCRA.
Os primeiros saltos
1971- O advogado Newton Raul Faria de Almeida havia mudado de volta a Boituva dois anos antes.
Ele já residia em sua casa atual, na Seis de Setembro.
Próxima à atual Eletropaulo funcionava a sede da Corporação Musical Sagrado Coração de Jesus.
Newton Faria freqüentava os ensaios sempre que tinha tempo livre e acabou se inteirando da
situação difícil da Corporação e resolveu promover uma apresentação de pára-quedismo para
arrecadar dinheiro.
Apresentações aeronáuticas não podem ser feitas com fins lucrativos.
Zeliza Franco de Mello confeccionou flores de pano untado com parafina e no dia da apresentação,
postou-se na entrada da chácara Laureano (no final da rua 16 de Outubro). Cada espectador oferecia
sua contribuição à banda e recebia em troca uma flor. A chácara ficou tomada pelo público.
Um avião decolou da cidade de Americana e fez três lançamentos sobre um alvo improvisado, feito
com pó de serra. Os primeiros pára-quedistas a tocarem o solo boituvense foram, pela ordem, Bié,
Salti e Ademir.
A promoção rendeu um bom dinheiro à Corporação Musical Sagrado Coração de Jesus, então presidida
por João Batista de Arruda (pai do médico Josemir Maurício de Arruda). O público mostrou-se
surpreendemente ordeiro. As fotos da época mostram a multidão disciplinadamente contida atrás das
cordas que fizeram o isolamento. O que caiu sobre Boituva não foram apenas três pára-quedistas
- foi também a semente de uma idéia.
1° salto: Décio F. Almeida, Bié, Tancredo Primo, Eurico Ferriello, Salt, Lelo, Ademir e Roberto Faria de Almeida
Em 1971, a União Brasileira de Pára-quedismo era presidida pelo irmão de Newton Faria - Décio.
Ele queria criar um centro nacional para a prática do esporte porque os pára-quedistas tinham
de disputar espaço com aviões nos clubes de todo o país. A cidade paulista de Limeira encampou
a idéia e, em outubro de 71, seus vereadores se mobilizavam em busca da doação de uma área para
sediar o centro nacional. "Por que não Boituva ?", perguntou Newton a Décio Faria de Almeida."Se Boituva der o terreno antes de Limeira, tudo bem."
Nasce o Centro Nacional em Boituva
13 de outubro de 1971 - A União outorgou procuração pública para que Newton Faria recebesse,
em nome do órgão ligado ao governo federal, "doação, comodato ou empréstimo de uma área"
para implantação do Centro Nacional de Pára-quedismo.
14 de Outubro - Alfredo Sartorelli e sua mulher, Luiza Rosa Sartorelli,através de escritura
particular, doaram uma área. de 66.500 m2 no sítio conhecido como Campo de Aviação pois não
havia tempo de pedir ao INCRA da época o desmembramento da área inferior ao módulo mínimo
de 15 hectares.O empresário Napoleão Jorge também fez doação de uma área,mas colocou um advogado
no circuito para oficializar o ato. Não havia tempo a perder, Limeira ultimava os preparativos
para doar um terreno à União. Quando o advogado colocou impecilhos à doação, Newton Faria viu
seus sonhos desmoronarem e foi a Alfredo Sartorelli para desobrigá-lo da doação. "O que tem de
fazer para que essa coisa não saia de Boiluva ?", quis saber o patriarca dos Sartorelli."Preciso de mais uma área para fazer o alvo", respondeu Newton Faria. A nova doação foi feita,
desta vez em comodato (empréstimo por tempo determinado, mas renovável). Sr. Alfredo e dona Luiza
doaram mais 27.708 m2 por quinze anos, renováveis por igual período quantas vezes fossem
necessárias e de forma obrigatória, a menos que o CNP ficasse mais de dois anos parado.
A corrida contra o tempo foi ganha. Para a Boituvana de 1971 (que então era comemorada em 16 de
outubro), um avião inaugurou o Centro Nacional, aterrissando em Boituva. Para a construção do
Centro, foi importante o trabalho do então prefeito Eurico Ferriello.
4 de novembro de 1971 - O ministério da Educação e Cultura pede à secretaria de Segurança Pública
de S. Paulo para que coloque à disposição o então administrador do DEIC, Newton Faria.
Missão: implantar em 90 dias o Centro Nacional de Pára-quedismo. Ele recebe atribuições oficiais
da União para cumprir sua tarefa, de que deu cabo no prazo estipulado, retornando ao trabalho no
DEIC depois de três meses.
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Newton: o primeiro a tocar o alvo do Centro Nacional, em 71
No final de 1971, duas cidades disputavam o Centro Nacional de Pára-quedismo:
Boituva e Limeira. Quem doasse primeiro as terras para a implantação do CNP ganharia a parada.
O advogado Newton Raul Faria de Almeida, acompanhado do hoje vereador Antonio Carlos Nogueira,
procurou Alfredo Sartorelli para pedir a doação. E o Sr. Alfredo, benemérito dacidade, fez a
doação. Para oficializá-la, havia um problema: o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária - IBRA
(em fase de transformação para INCRA), aceitava o parcelamento de propriedades rurais em módulos
de no mínimo quinze hectares.Glebas menores tinham de ser autorizadas pelo órgão."Não havia tempo
para pedir a autorização", lembra o advogado Newton Raul Faria de Almeida. "Se nós demorássemos
para doar o terreno à União, Limeira nos passaria para trás e sediaria o Centro Nacional.
A solução encontrada à época foi a escritura particular, assinada por Alfredo e sua mulher.
Esta doação foi seguida de outra, por comodato por instrumento público, que faz menção à doação
inicial. Acometido pelas complicações de uma diabetes, Alfredo Sartorelli morreu antes de os
módulos rurais em Boituva passarem de quinze para três hectares, a partir do ano fiscal de 1983.
O Clube de Pára-quedismo de Boituva
21 de novembro de 1971 - É fundado na casa de Newton Faria o Clube de Pára-quedismo de Boituva
(hoje extinto). Estiveram presentes, além do anfitrião: Alexandre Souza Bueno, Antonio Carlos
Nogueira, João Alfredo Sartorelli, Francisco Carlos Sartorelli, Zezito Rosa, Geremias Dalmazzo
Neto, José Eduardo Sartorelli, José Carlos Camargo, Ítalo Malatrasi Júnior, Waldir Módolo,
José Teodoro de Mari, Roberto Pegorelli e os convidados Aldamiro Dondon Filho (então instrutor
do Clube de Campinas e hoje juiz de pára-quedismo da FAI), a pára-quedista Vera Lúcia Alcântara
Goulart e o presidente da União Brasileira, Décio Faria de Almeida.
13 de dezembro de 1971 - O Rotary Clube de Boituva cumprimenta em ofício Alfredo Sartorelli e
Newton Faria. Os rotarianos tomaram conhecimento de notícia publicada pelo jornal de Limeira.
A nota parabenizava a "pujante e dinâmica cidade de seis mil habitantes" que havia passado a
perna em Limeira e atraído para si o Centro Nacional.
26 de dezembro de 1971 - É realizado o primeiro salto de boituvenses em sua terra natal.
Instruídos pelo Clube de Boituva, os primeiros atletas foram lançados pelo comandante do
Cessna 170 PT- AFU, Avelino Alves de Camargo, de uma altura de 750 m e com ventos de quatro metros
por segundo. O hoje cirurgião-dentista Pedro Carlos Dalmazzo foi o primeiro a saltar. Ele foi
seguido de José Carlos de Camargo, Zezito Rosa e Antonio Carlos Nogueira. Na segunda decolagem,
saltaram José Olimpio de Barros, Roberto Pegorelli e José Carlos de Camargo.
O Clube de Pára-quedismo de Boituva realizou mais de mil saltos.
Hoje está extinto,
o que é história para uma próxima vez...
--- EXTRAÍDO DO JORNAL FOLHA DE BOITUVA DE 26 DE JULHO DE 1991 ---
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