Ricardo Pettená
A trajetória de Ricardo Pettená no paraquedismo se mistura com a história do esporte no Brasil. Ele começou a saltar com apenas 13 anos de idade e logo se tornou um dos principais nomes do esporte. São 43 anos de uma carreira vitoriosa e muitas contrubuições para o esporte. Após acumular dezenas de títulos de FQL passou a ser um dos principais treinadores de times de 4-way e 8-way no país. Além de pioneiro também ajudou a inovar, foi um dos criadores do método de treinamento BBF (Basic Body Flight) e iniciou a implantação do programa AFF no Brasil. É o responsável pela maioria dos recordes organizados no país desde a década de 70, e é um dos Capitães dos principais eventos de Big-Way pelo mundo. Conheça um pouco mais da história do atleta e treinador que ajudou a formar centenas de paraquedistas no Brasil.
Nome completo: Ricardo Pettená
Idade: 56
Natural de: Santos
Profissão: Instrutor, Coach (Treinador), Examinador de Paraquedismo
Formação: Faculdade de Marketing (ESPM – São Paulo, 1984) e Pós Graduação em Economia (PUC – Campinas, 1998)
Modalidades: FQL, mas também já pratiquei precisão, estilo, Free Style, Free Fly, TRV, Pilotagem de Velame.
Licenças: Instrutor e Examinador AFF, Treinador e Examinador BBF, Tandem Pilot (aposentado), Tunnel Coach e Tunnel Instructor (pela IBA).
Principais recordes: Organizador da maioria dos recordes desde o primeiro 3-way oficial (Boituva 1974) até os últimos BW2P do BrDT na Califórnia, inclusive o 282-way na Tailândia e o 300-way no Arizona, todos como capitão.
Títulos: (4way, 8way): Mais de 20 medalhas de primeiro lugar em 3-way, 4-way, 8-way e 10-way speed em 16 diferentes anos de Campeonatos Brasileiros, além de torneios, campeonatos paulistas, sul americano e pan-americano, desde 1974 até o presente.10270624_664089463678085_8832631553396128134_n
Nomes dos times, equipes e organizações pelas quais competiu: Clube de Pára-quedismo de Campinas (1971 a 1976), ADPM (1976 a 1978), Equipe Campinas de Pára-quedismo (1978), Federação Paulista de Pára-quedismo (1978), Chão Preto (1979 a 1981), Azul do Vento (1982 a 1987), Deland VNE (1993 a 1997), Action (1997 a 2014), além de representar o Brasil em diversas competições e os EUA no Mundial Bélgica, em 1996.
Posição no time: Várias, mas atualmente salto de outside center, no 4-way do centro do 8-way.
Atual Área de Salto: Boituva
Primeiro salto: 1971, em Campinas, SP, Static Line e T-7, com 13 anos de idade.
Número de saltos total: 10.000
Total de reservas: 10
A maioria das pessoas não sabe sobre mim: Creio que a atual geração de paraquedistas conhece pouco do que foi a história do nosso esporte e eu vivenciei grande parte dela. Eu vi o paraquedismo evoluir através dos anos. Eu comecei com paraquedas redondo. Os equipamentos, as técnicas e a instrução evoluíram a partir do final da década de 70. Nos anos 90, treinei dezenas de times. Entre eles, os times que mencionei acima, quando participava como player-coach. Mas também treinei os Cometas no início dos anos 2000, o time da Força Aérea (em Paraclete XP), o time de Manaus, o Stratosphere, e vários times internacionais (Dinamarca, Escócia) na época que eu morava em Deland, na Flórida, entre 1991 e 1997. Fui o instrutor responsável pela escola de AFF e BBF em Deland. Fundamos a Skydive University junto com o Tom Piras, o Rob LaidLaw, Jack Jefferies e Craig Buxton e desenvolvemos o programa que hoje é conhecido em todo o mundo, o BBF – Basic Body Flight. Em 1982, junto com o meu irmão, Marcos Pettená, iniciamos a implantação do AFF no Brasil.
Nas competições, junto com o time do Brasil, ficamos em 8º lugar em 4-way no Mundial de Sun City e 5º no 8-way, na Bélgica, junto com o time de Deland, USA.
Como você se interessou pelo paraquedismo?
Visitando uma exposição de equipamentos do Clube de Pára-quedismo de Campinas, em 1971. Eu tinha 12 anos de idade. Dois dias depois comecei a fazer o curso e cinco meses depois consegui as autorizações para fazer meu primeiro salto, com 13 anos de idade.
O que você mais gosta no esporte?
Gosto dos desafios que necessitam de planejamento, trabalho em equipe e pensamento estratégico para que o objetivo seja atingido. Isto inclui atividades e saltos com o meu time de 8-way, o Action, o BrDT, os cursos de formação de instrutores e o planejamento dos SGS – Sistemas de Gestão da Segurança, para tornar nosso esporte mais seguro.
O que você menos gosta no esporte?
Do comportamento imaturo de alguns atletas que, quando cometem erros, não sabem assimilar as consequências. Também não gosto quando paraquedistas não seguem as Normas de Segurança e colocam a vida de outros em risco.
Você tem algum mentor dentro do esporte?
Nenhum mentor, mas nos anos 70 eu aprendi muito com o Aldamiro Dondon Filho, meu instrutor. Nos anos 80, observava o Tom Piras. Nos anos 90, o Jack Jefferies. Nos anos 2000, o Rob LaidLaw e agora continuo de olho nas contribuições que o Rob LaidLaw e o Dan BC trazem para o esporte.
Como você se interessou por 4-way?
Me interessei quando, em 1974, a CBPq (UBP, na época), organizou a primeira Copa de TR (FQL) para escolher a equipe de 4-way que iria representar o Brasil na África do Sul. Competimos, ganhamos e fomos para Pretória onde participamos da competição. Depois disto, nunca mais parei de praticar FQL, embora tenha praticado um pouco de todas as outras modalidades.
Você foi Chefe do CIS – Comitê de Instrução e Segurança da CBPq de 2007 a 2012, qual foi sua principal contribuição para o esporte?
Nossa missão era aumentar a segurança e padronizar a instrução. O objetivo era zerar o número de acidentes fatais. Neste período implantamos o atual sistema de formação de instrutores, o programa BBF e fizemos com que o número de acidentes fatais diminuísse de oito para três ao ano.
Como foi o trabalho de orientação nas áreas do Brasil?
O trabalho foi feito por uma equipe muito boa e experiente, além de muitos colaboradores, a quem sou muito agradecido. Visitei pessoalmente mais de 30 áreas de salto, algumas delas mais do que cinco vezes. No período, treinamos ou reciclamos direta ou indiretamente quase cem por cento dos instrutores, seja nos Simpósios realizados, nos cursos de formação de treinadores BBF, AFF, ASL e nos cursos de formação de Examinadores (AIC). Quando ia para uma área de paraquedismo para ministrar um curso, sempre convidava os instrutores locais mais antigos para participar como avaliadores, desta forma eles faziam uma reciclagem sem o constrangimento de se sentar no banco de alunos. Vários programas foram implantados e funcionaram enquanto nossa equipe esteve no CIS.
Qual o item de segurança que você acha mais importante, e que os atletas ou áreas muitas vezes negligenciam?
A segurança não depende de uma pessoa ou de um item apenas. A segurança deve ser vista como um Sistema, o SGS – Sistema de Gestão da Segurança. Justamente isto que as áreas, RTAs e instrutores responsáveis por escolas devem implantar para aumentar a segurança no paraquedismo. Treinar os RTAs para fazer isto era o próximo passo da nossa equipe no CIS.
Como líder do X-Team você comanda o Brazilian Dream Team nos principais recordes do país, quais os maiores desafios para manter o Brasil no circuito internacional de BigWays?
Nos anos 90 nos fazíamos nossos recordes nos EUA porque só tínhamos Cessnas pequenos no Brasil. Nos anos 2000 a F.A.B. supriu as aeronaves até 2005. A partir de 2010, até 2014 tivemos que voltar para os Estados Unidos em busca da estrutura das áreas e das aeronaves. Só que isto tem um custo elevado para os atletas que participam. O nível técnico dos brasileiros está bom e ficou comprovado nestes últimos cinco anos de quebras de recordes organizados pelo BrDT. Hoje temos a terceira maior formação do mundo reconhecida pela F.A.I. e o segundo maior recorde continental de Big Way Sequencial. O desafio é poder levar todos os bons paraquedistas a um mesmo evento e chegar ao primeiro lugar.
Qual foi o momento mais marcante pra você em todos esses anos como atleta?
Creio que foi o 300-way. Eu era capitão de um setor e tinha vários campeões mundiais em meu grupo. No primeiro dia éramos o pior setor. No segundo dia fiz algumas alterações pontuais e passamos a ser o melhor grupo. O 300-way foi o salto mais marcante da minha carreira, pois foi uma iniciativa nossa (Carmem, Jack Jefferies, Dan BC, Jorge Jica e eu). Só não aconteceu no Brasil porque a F.A.B. não confirmou as aeronaves seis meses antes do evento.
Qual a coisa mais engraçada ou estranha que já lhe aconteceu em um salto?
Nós voltávamos de Lençois Paulista no avião do Carlos Edo, um Tween Beach do qual saltamos no funeral do nosso amigo Simione que havia falecido num acidente com o T-6 em Limeira. Estávamos equipados para saltar no Campo dos Amarais, em Campinas. O avião estava sem porta e eu deitei no chão com a cabeça para fora. Num dado momento, quando sobrevoávamos uma cidade, resolvi que iria fazer uma “aventura” e saltar ali mesmo. Avisei o Fideles, o Rubão e o Marcos. Disse a eles, “quem for meu amigo vem atrás de mim”. Eu não tinha a mínima ideia de onde iríamos pousar e nem como estava o vento. Saltei bem no meio da cidade e olhei para o avião e me senti sozinho e sem amigos (risos). Ninguém havia me seguido. Depois de alguns segundos, vi um a um passando pela porta do Beech e colocando um dive na minha direção. Fizemos uma estrela de quatro. Sorri e pensei, meus amigos são realmente meus amigos. Separamos a formação e abrimos os paraquedas e descobrimos que o vento estava muito forte e que os paraquedas estavam andando de costas. Cada um pousou num canto da cidade. Uma multidão se juntou próximo ao local de pouso de cada um e quando nos encontramos nos levaram para beber cerveja num bar e depois nos colocaram num ônibus para Campinas.
Quais são os planos para 2014 dentro do esporte?
Competir no Brasileiro de 8-way, fazer um camp de túnel em Paraclete e outro em Dubai. Em 2015 vamos fazer um “Diamante” aqui no Brasil. O último foi 64-way em 2003.
Qual a dica que você dá para quem está começando a saltar?
Sempre lembrar que o paraquedismo é um esporte de risco e tudo acontece muito rápido, portanto, devemos sempre estar preparados e saltar preventivamente.
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