Depoimentos

 

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 Murilas

O Paraquedismo é praticado por pessoas de diferentes perfis e nuances mas de vez em quando surgem algumas figuras que extrapolam tudo pelos seus atos e comportamentos dentro do nosso esporte e entram naquela categoria de gente em que você nunca ouviu falar ou jamais irá esquecer !
Costumamos brincar que Deus é muito justo e permite que apenas um deles surja em cada estado brasileiro pois isso é o máximo que a nossa comunidade poderia suportar ! rs...
Quem conhece e nunca vai esquecer sabe que no Mato Grosso do Sul temos o Luis do Pantanal e em São Paulo o Nilo Mota, só para citar alguns dos mais famosos.
Pois bem, o Rio de Janeiro também foi agraciado com uma figura única cujo nome era Murilas.
Natural do estado, começou a saltar na década de 50 e era soldado do Núcleo de Divisão Aero-terrestre que mais tarde viria a se transformar na Brigada de Paraquedistas do Exército.
Murilas era obcecado pelo Paraquedismo e fazia qualquer coisa para poder saltar.
Certa vez criou uma tal de Patrulha Aero-civil em Juiz de Fora - MG, uma entidade civil que constava de 20 soldados, 1 tenente e 1 comandante que era ele mesmo.
Viajavam sempre do RJ para Juiz de Fora para fazerem os treinamentos e o Murilas costumava dar 2 saltos no sábado e 2 no domingo e o restante do pessoal ficava treinando dobragens dos paraquedas, montagem da biruta, equipe de terra, etc.
Todo fim de semana era a mesma coisa e só o Murilas saltava e sempre tendo os saltos patrocinados por toda a Patrulha.
Depois de muitas e muitas atividades ouvindo a mesma história de que saltariam na próxima semana e nunca acontecendo nada os soldados desistiram da Patrulha Aero-civil sem terem dado um só salto !
Numa outra vez o Murilas amarrou um fio de Nylon no punho de comando do paraquedas principal de um aluno e na cadeira do piloto do avião inventando uma espécie de salto semi-automático.
Após a saída do aluno o fio se soltou da cadeira e o aluno que era um soldado entrou em queda livre.
Depois de capotar inúmeras vezes e quase por milagre, o soldado conseguiu comandar seu paraquedas a uns 50 metros do solo !
O Murilas ficou desesperado com o ocorrido e tempos depois bem mais aliviado com o final da história acabou dando um diploma ao soldado por ato de bravura !
Outra vez, como não conseguia cair numa posição estável teve a idéia de saltar com um pilotinho de reserva com  mola amarrado no dedo para facilitar a sua queda.
Quase teve o dedo arrancado em queda livre e sua sorte foi que o cordão arrebentou.
Numa demonstração, como não tinha um suporte no pé para instalar o fumígeno que iria usar resolveu amarrá-lo diretamente na perna.
Nem precisa dizer que ele se queimou todo com o calor gerado pelo mesmo ao ser acionado.
Sempre que aprontava alguma o Murilas sumia por uns tempos até a poeira baixar.
Ele trabalhava também como motorista de lotação e uma vez ao parar em um ponto para pegar passageiros viu do outro lado da rua uma Kombi com um emblema de paraquedismo pintado na sua lataria.
Se comunicando aos gritos com o pessoal da Kombi ficou sabendo que eles estavam indo para uma atividade de paraquedismo em Minas Gerais.
O Murilas não teve dúvidas e largou a lotação repleta de passageiros e só com o cobrador estacionada no ponto e se mandou prá MG com seus novos amigos paraquedistas !
É claro que quando voltou  tinha perdido o emprego, né ?
Essas histórias verdadeiras foram narradas pelo nosso ex-presidente Solon Rodrigues Santos que teve o privilégio de conviver com o Murilas.         
     
                                                                                                                                     Por  Fideles