Depoimentos

 

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                                                                                                                                          Maceió

Em Dezembro de 1984 fui contratado pela prefeitura de Maceió para fazer umas demonstrações na cidade.
Convidei meus amigos Tunico Lage , do Rio de Janeiro, Nelson Jorge , de Goiânia e Marcos Rama de São Paulo.
O Rama tinha acabado de receber um paraquedas novinho em folha, vindo dos EUA e estava em dúvida se deveria levá-lo.
Ponderei que era melhor ele usar o paraquedas antigo, ao qual já estava acostumado pois iríamos saltar em um estádio de futebol e também na praia.
O avião que nos esperava para fazermos os saltos era um velho Cessna 170 e que demorava muito a subir, o que não achávamos ruim pois podíamos curtir com calma o lindo visual da cidade.
O primeiro salto seria no estádio.
Resolvemos então fazer a demonstração em duas decolagens.
Como era época de Natal, o Tunico iria saltar vestido de Papai Noel  e carregando um saco cheio de balas e bombons para distribuir para a criançada.
O Estádio Rei Pelé estava lotado pois acontecia naquele momento um show com a cantora e apresentadora Angélica.
Na primeira passagem do avião saltamos eu e o Nelson. Logo fizemos um TRV e abrimos um side-by-side.
O tempo estava tranqüilo e vínhamos conversando calmamente sobre a beleza do lugar, enquanto nos dirigíamos ao estádio. Tudo sobre controle.
Quando atingimos uns 300 metros de altura fomos pegos por um vento fortíssimo e turbulento!
Separamos nossos paraquedas e passamos à toda por cima do estádio, navegando de vento de nariz e sendo empurrados para trás!
Com muito esforço e sorte, consegui me livrar de um telhado e pousar numa calçada em frente à uma casa. O Nelson passou raspando por uns fios elétricos de rua e estava bem assustado.
Logo nos encontramos a tempo de ver o nosso querido amigo Rama fazer seu salto. O avião tinha esperado que pousássemos para fazer a reta de lançamento novamente.
Veio-nos um sentimento dúbio, de apreensão e riso, pois sabíamos o que iria acontecer com o Rama quando ele atingisse uma altura menor.
Dito e feito! Ele vinha navegando calmamente, estreando seu novíssimo paraquedas e fazendo algumas curvas e manobras quando foi atingido por aquele vento absurdo. Passou por cima do Estádio, de vento de cauda e numa altíssima velocidade.
Eu e o Nelson corremos até o Estádio com o intuito de ligar para o aeroporto e solicitar que impedissem a decolagem do avião com o Tunico.
Até conseguirmos fazer esse contato demorou um pouco e estávamos muito apreensivos e também ansiosos para receber alguma informação de volta.
O Tunico nos contou que quando o avião começou a se movimentar pela pista para a decolagem, apareceu uma pessoa correndo e acenando para ele. Como estava vestido de Papai Noel, pensou tratar-se de um fã e não dando muita importância ao fato, apenas acenou de volta.
Um certo tempo depois o Rama nos encontrou e estava todo ralado ( ele e o paraquedas! ) pois tinha caído em cima de uns coqueiros.
Quando vimos o velho Cessna 170 bem ao longe, trazendo o Tunico para seu salto, voltou à nós  aquele sentimento dúbio novamente.
Estávamos apreensivos, mas confesso que não conseguíamos parar de rir por um instante só, esperando o que iria acontecer. Afinal, já não dava prá fazer mais nada e o Tunico era um dos mais experientes  paraquedistas do país ...
Dito e feito! A diferença foi que o Tunico passou bem mais alto por cima do Estádio, empurrado por aquele vento louco e sumiu de nossas vistas.
Uma hora mais tarde, entra no estádio uma camionete carregando em sua carroceria o Papai Noel.
Mas não era o Tunico, que no pouso tinha rasgado a roupa de fantasia. Rapidamente costuraram a mesma e a vestiram em um artista local que agora distribuía as guloseimas para a garotada.
Fomos então para o hotel, onde dobramos os paraquedas para os saltos do dia seguinte.
E o Rama todo chateado por ter ralado seu novo brinquedinho!
Saltamos todos na praia de Pajuçara, apenas de shorts e prestando muita atenção no forte e turbulento vento de solo.
Não foi bem o caso do Rama, que deu uma vacilada e caiu dentro do mar! Ele afundou até a altura do peito e conseguiu manter o paraquedas inflado e sem molhar. Achávamos que ele iria conseguir chegar até a praia, salvando o velame da água. Mas não foi bem assim!
Uma rajada de vento lateral e lá foi o Rama e seu paraquedas novo pro fundo d`água.
Quase passamos mal de tanto rir e assim voltamos para o hotel.
Preocupadíssimo com seu paraquedas molhado, o Rama queria lavá-lo dentro da piscina do hotel mas o gerente não gostou muito da idéia.
Conseguiu então uma mangueira emprestada, esticou o velame em cima de um muro e lavou o mesmo cuidadosamente com água doce.
Ainda reclamando da sorte com seu novo paraquedas, ao puxá-lo de cima do muro, um prego que tinha passado despercebido rasgou um bom pedaço do velame!
Terminamos de fechar nossos equipamentos e fomos almoçar no restaurante do hotel, que ficava em frente à praia.
Menos o Rama, que queria secar os velames o mais rápido possível  pois iríamos viajar à noite, de volta prá São Paulo.
Como o reserva também tinha molhado, o Rama resolveu que iria secá-lo na praia. Do restaurante do hotel víamos tudo o que acontecia.
Ele se equipou, andou alguns metros para dentro da praia e comandou o reserva, um Phanton 24, redondo.
E mais uma vez o Rama subestimou aquele vento bravo que agora o arrastava pela praia e contra a sua vontade.
Ríamos tanto que as pessoas que estavam no restaurante se aproximaram para observar o que estava acontecendo. O Rama tinha conseguido se agarrar a um coqueiro e enquanto o reserva inflado o puxava violentamente, alguns transeuntes se aproximaram e ficaram observando a cena inusitada, sem saber o que fazer.
Nós simplesmente não conseguíamos parar de rir. E foi assim durante toda a longa viagem de volta.
Além das recordações hilárias dos fatos recentes, tínhamos em mãos a edição do principal jornal de Maceió, que nos dava ainda mais motivos para risadas pois a sua manchete principal era : Papai Noel cai no telhado de casa da periferia!

                                                                                               Por    
                                                                                                      José Fideles